domingo, 29 de janeiro de 2012

EXEMPLO A SER SEGUIDO

Explosão de solidariedade

Publicação: 29 de Janeiro de 2012 às 00:00

Felipe Gurgel - repórter

Pelo seu nome de batismo, pouca gente o conhece: Francisco Rubens da Silva. Mas, pelo apelido que "ganhou" nos tempos de jogador profissional de futebol, é mais fácil identificar esse quase senhor de 55 anos: Chico Explosão. "Quando era atleta, jogava como ponta direita e tinha um vigor físico muito grande. Corria o campo todo, marcava, atacava e fazia isso tudo com muita força. Foi por causa dessa minha característica que a imprensa potiguar daquele época, me colocou esse apelido, de Explosão, que me acompanhou durante toda a minha carreira", revela o ex jogador.
rodrigo senaCerca de 30 jovens treinam na escolinha de Chico Explosão. Para ele, o que falta é uma política mais voltada para o esporte, a fim de livrar os jovens das drogasCerca de 30 jovens treinam na escolinha de Chico Explosão. Para ele, o que falta é uma política mais voltada para o esporte, a fim de livrar os jovens das drogas
A história de Chico Explosão como jogador, começou em 1976, aos 21 anos, pelo Força e Luz, antigo clube de Natal, que participou de alguns campeonatos estaduais. Em seguida, se transferiu para o Atlético e Ferroviário, ambos equipe da capital do Rio Grande do Norte. Mas, no final da década de 70, o veloz ponta direita teve que se retirar dos gramados. Devido a uma contusão no joelho, decidiu abandonar o futebol, decisão que durou por um ano.

Mesmo sem jogador, Chico Explosão mantinha a forma treinando nos morros de Cidade da Esperança. Foi em um desses treinos, que dirigentes do Alecrim o convidaram a retornar aos gramados e defender o time no campeonato estadual de 1979. O ex-jogador passou pouco tempo no alviverde. Sem muito espaço no cenário profissional do futebol potiguar, Chico se aventurou por diversos times do interior, que disputavam campeonatos regionais.

Com pouco retorno dentro de campo, decidiu tomara difícil decisão de pendurar precocemente, de uma vez por todas, suas chuteiras, no final dos anos 80, aos 33 anos.

Mas, quem pensa que Chico Explosão se afastou do futebol, se enganou. Menos de um ano depois, estava ele deitado em seu sofá assistindo um programa esportivo na televisão, quando tudo mudou. "Em 1991, depois de me aposentar do futebol, estava em casa, assistindo televisão, quando vi uma reportagem de um ex jogador que estava abrindo uma escolinha de futebol para crianças. Naquela época, aquilo não existia em Natal, não nos moldes que eu queria, uma escolinha gratuita. E foi o que fiz. Arregacei as mangas da camisa e fui trabalhar. Agora, já são 22 anos aqui em Cidade da Esperança, tentando passar alguma coisa para os jovens", afirma Explosão.

Sofrendo para manter sua escolinha funcionado, o ex jogador e hoje treinador, sabe que as dificuldades precisam ser superadas pelo bem maior, que é o ensinar aos jovens que o esporte é a melhor saída para não enveredar pelo mundo das drogas. "Não iludo ninguém. Sempre digo os garotos que não deixem de estudar, porque, se não conseguirem ser jogadores de futebol, eles podem ter um futuro como cidadão de bem, pais de família. Cobro isso deles, para que não se mandem para o lado ruim da vida. Já imaginou, três desses meus alunos, sem nada na vida, com uma arma na não, dentro de algum comércio? Não é isso que quero para eles. Quero que eles tenham uma vida digna", afirmou.

Atualmente, a escolinha de Chico Explosão funciona no bairro de Cidade da Esperança e conta com jovens de 10 a 15 anos, que sonham em se tornar jogadores profissionais. São mais de 30 garotos que treinam duas vezes por semana. Nas terças-feiras, apenas a parte física, em um morro do bairro. Nas quintas-feiras, a parte técnica e tática. Antes, os jogos eram realizados no campo de futebol de Cidade da Esperança, mas, de acordo com o ex jogador, a Prefeitura de Natal solicitou o espaço e ele teve que mudar o local dos treinamentos.

"Ficou um pouco mais longe de treinar, porque a Prefeitura pediu o campo que eu usava como local de treinamento dos garotos. Agora, estamos treinando em um campo lá nos Barreiros, uma localidade perto de Cidade da Esperança. Mas, isso não vai fazer com que eu me desanime. Vou continuar trabalhando sério, para ajudar esses jovens que querem se tornar jogadores", afirmou Chico Explosão.

Para Chico, falta de patrocínio ainda é o maior problema

Como é comum em Natal, os esportes que não possuem grande apelo de marketing ou que dão retorno financeiro, dificilmente conseguem patrocínios para financiar os atletas. A escolinha de Chico Explosão não foge a essa regra. Totalmente gratuita, o dono e treinador revela que mantém o projeto apenas com doações e ajuda dos pais dos seus alunos, que contribuem de forma voluntária, já que para fazer parte da escolinha, não é necessário pagar nenhum tipo de mensalidade. "É complicado tentar desenvolver um projeto sem ajuda nenhuma. Às vezes aparece um empresário, conversa comigo, diz que quer ajudar, mas na hora de investir, desaparece. Isso que é o mais complicado, porque cria expectativas em mim e nos jovens e acaba não se concretizando", desabafa.

Alguns amigos ajudam na escolinha de Chico Explosão, mas, apenas com bolas, coletes e chuteiras. Quando é necessário dinheiro para viagens, para a realização de amistosos, a situação fica complicada. Aí, os pais dos alunos precisam desembolsar alguma ajuda para que os seus filhos possam jogar fora de Natal. "Sempre tenho convites para jogar no interior do estado e até em outros estados. Mas, fica difícil organizar a viagem, porque não tenho dinheiro para alugar um transporte. Tem que ter dinheiro para alimentação, essas coisas. Por isso que os pais dos meus alunos sempre ajudam, quando podem. Não só em relação as viagens, mas me ajudam também. Eles sempre mandam um ´dinheirinho´, para que eu possa me manter", revela.

Mas, se todas as promessas que fizeram a Chico Explosão, fossem realizadas, ele não estaria precisando mais de ajuda. "O Cascata elogiou meu trabalho, disse que ia ajudar, e nada. O Leandrão me prometeu patrocínio, e foi embora. Até Renato, meio campo do Botafogo/RJ, soube do meu projeto, ficou de ajudar e não apareceu mais. E nem adianta ir atrás de ABC e América, porque os clubes daqui não tem interesse de ajudar essas escolinhas, o que acho errado", afirma Explosão.

Mesmo batalhando atrás de patrocínios para sua escolinha, o que mais Chico Explosão deseja é um emprego para ele, que sobrevive apenas com a ajuda dos pais dos alunos da sua escolinha. "Olha só, já pensei em desistir, de abandonar tudo, mas, pelas crianças, continuo aqui e vou continuar por muito tempo. O que eu queria mesmo era que conseguisse um emprego na Prefeitura, para poder me manter e trabalhar com os jovens mais tranquilo", finalizou.
Fonte:tribunadonorte.com

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